Na escola onde leciono tem uma menina , designada aqui como (SR). No ano passado fui sua professora no primeiro ano. (SR) demonstrou dificuldades de acompanhar o ritmo da turma, concluiu o primeiro ano escrevendo seu nome só com as consoantes. Tem problemas com a fala. Tem dificuldade de se concentrar e de ficar sentada. Passa muito tempo andando pela sala, apontando o lápis. A chamo de "minha borboletinha". Se não fosse pelo sistema de alfabetização até o terceiro ano, com progressão continuada, certamente (SR) ficaria mais um ano comigo.
(SR) além das dificuldades na alfabetização sofre um preconceito muito forte dos colegas. Menina negra, pobre, moradora de uma invasão, sem condições básicas de saneamento básico, por isso as vezes não tem uma higiene correta, e ainda é levada pelo pai para mendigar no centro da cidade e a família é assistia pelo "Ação Rua". Os colegas a evitam muito. As meninas não a convidam para brincar. Mas (SR)é uma guerreira. é "cria" da escola, apadrinhada por muitos professores e por eles acarinhada. (SR) nos contagia, pois por mais difícil que seja a situação, como neste ano que seu barraco pegou fogo, (SR) estava lá sorrindo. Talvez sorria sempre por ser uma característica só sua, mas muitas vezes notamos no seu olhar uma tristeza por ser excluída.
Neste momento nos perguntamos: como podem crianças de 6 a 7 anos já terem um preconceito tão forte. Acredito que não são ensinadas pelos pais, pois muitos não conhecem (SR). Então de onde vem esta intolerância com a figura de (SR). (SR) sofre com isso, sabemos. Fazemos de tudo para integra-la ao grupo, mas é sempre rejeitada. (SR) não sabe o significado da palavra preconceito, mas já lida com ele mesmo tendo só sete anos.

Nenhum comentário:
Postar um comentário