O conceito
que mais considero relevante para a prática pedagógica na EJA é da necessidade que
o aluno construa seu conhecimento através da interação entre os sujeitos que
frequentam a EJA. Que sejam exaltadas as experiências de cada indivíduo ou as
do conjunto de indivíduos, se for o caso. Que o currículo seja baseado e
voltado para o meio em que vivem, em suas realidades e necessidades, como
descrevem Vargas e Gomes ao citar o relato de Antônio (pg 458, 2013) que fala
da sua necessidade em aprender, que diz: [...] preciso aprender mais... ter
mais conhecimento... facilitar mais o meu setor do trabalho, conhecer mais,
desenvolver mais o meu trabalho; a gente tem mais é que correr atrás... Por
exemplo, desenvolvimento no trabalho, quer dizer, não perder a oportunidade no
trabalho.
Os alunos jovens e adultos da EJA são
sujeitos que perderam ou não tiveram a oportunidade de ingressar ou concluir
seus estudos, por vários motivos alguns alheios as suas vontades, como:
trabalhar para ajudar financeiramente a família, gravidez indesejada, vício em
drogas, dificuldades de deslocamento e mobilidade até a escola, conflitos familiares...
São alunos jovens mais ou menos a partir
dos dezesseis anos que estão atrasados nas séries, que tem dificuldades de
aprendizado, que se encontram com algum dos problemas citados no parágrafo a cima,
e adultos que não conseguiram concluir seus estudos ou são analfabetos que procuram
ascensão profissional, social ou pela necessidade de interação ou entendimento do
meio em que vivem.
A linguagem destes sujeitos
normalmente é a linguagem do meio em que vivem, com pronúncias erradas pela
ignorância gerada pela falta de frequentarem a escola. Alguns conseguem ler
algumas palavras, por terem parado de estudar em alguma série, mas o
entendimento e o pensamento sobre determinado objeto podem ou são comprometidos.
Em contra partida suas experiências de vida servem muitas vezes como base para
resolução de problemas do cotidiano.
Na EJA, os jovens e
adultos pouco ou não escolarizados – oriundos, portanto, de uma cultura não
escolar –, ao ingressarem na escola, terão que se inserir e interagir com os
modos de funcionamento particulares da instituição. Entretanto, o aprendizado
desses sujeitos inicia-se muito antes de frequentarem a escola, uma vez que
eles aprendem a lidar com as situações, as necessidades e as exigências
cotidianas da sociedade contemporânea. Portanto, quando começam a estudar, já
tiveram experiência com medidas, cálculos matemáticos, materiais impressos,
língua materna falada, ferramentas de trabalho e equipamentos elétricos e/ou
eletrônicos. (Vargas, Gomes- p.453, 2013).
As dificuldades dentro de sala de aula são de entendimento dos conteúdos
do currículo que não são baseados em sua realidade ou sobre o seu meio. A
relação entre sujeitos de diversas faixas de idade e de culturas. No cotidiano
de suas vidas as dificuldades se apresentam no desnivelamento e exclusão social,
falta de tempo para os estudos com por exemplo várias horas de trabalho, falta
de mobilidade, dificuldades financeiras, ...
O fato de os alunos pertencerem a diferentes
grupos culturais (relações de classe, econômicas, etárias, étnicas, religiosas
etc... pode provocar diferenças no funcionamento cognitivo? Sim. Por quê?
... Conforme explicita Tulviste (1991),
pessoas diferentes, membros do mesmo grupo cultural ou não, pensarão sobre
partes idênticas do ambiente de formas diversas; e a mesma pessoa pode pensar
de maneiras diferentes, usando diferentes métodos, estratégias e instrumentos
conforme a atividade em que esteja envolvida. (Oliveira, 1997, p. 58)
A diversidade é algo incontestável dentro de uma escola, e dentro da EJA
não é diferente, pois além da diversidade cultural ainda há variedade de
idades. Trazendo assim, para este ambiente uma multiplicidade de conceitos das
experiências de situações vividas pelos integrantes da EJA que podem ser compartilhadas ou contestadas pelos particiantes da mesma.
Os elementos fundamentais para que o trabalho
da EJA seja bem sucedido são as relações que se desenvolvem dentro de um
ambiente de ensino e entre os sujeitos que dela fazem uso, incluindo os
professores, conforme Vargas e Gomes (p.453, 2013). Esse aprendizado
ocorrera nas interações com outras pessoas, por meio de perguntas, respostas,
instruções, informações e imitação, possibilitando que eles desenvolvessem um
repertorio de atividades/capacidades que lhes permitiu ocupar seus espaços dentro
de seus grupos sociais.
Referências:
- VARGAS, Patrícia Guimarães
- GOMES, Maria de Fátima Cardoso - Aprendizagem
e desenvolvimento de jovens e adultos: novas práticas sociais, novos sentidos -
Educ. Pesqui., São Paulo, v. 39, n. 2, p. 449-463, abr./jun. 2013.