domingo, 25 de setembro de 2016

Narrativa ver e olhar.



Narrativa Ver e olhar

      Ao abrirmos os olhos, pela manhã, nossos olhos veem tudo a nossa volta, nos enxergamos no espelho, escolhemos nossas roupas e as cores que usaremos naquele dia. Tudo automaticamente. Mas em qual momento, deste dia atribulado começamos realmente a olhar o que realmente necessita de atenção?
         Nossa profissão, professor, exige que além de ver tudo e todos, que tenhamos um olhar sensível, observador e até mesmo crítico. Que através da observação possamos resolver questões ligadas ao nosso aluno e ao modo que o mesmo assimila e aprende. O professor necessita deste olhar sensível sobre o sujeito para tentar compreendê-lo. Faz parte do nosso trabalho: enxergar o que as vezes não consegue ser visto, o que está na subjetividade, nas camadas mais densas do ser humano.
        Querendo ou não, vamos aos poucos nos envolvendo com nossos alunos, entendendo suas necessidades e nos afeiçoando. Estar aberto e sensível a todas as questões e dificuldades que envolvem a alfabetização e do dia a dia dos nossos alunos, fazem parte da nossa convicção.
      Minha narrativa trata de um aluno que recebi a pouco, neste segundo semestre, vou chama-lo de (W). (W) está com 7 anos, frequentou creche e pré-escola. Não escreve nem reconhece o próprio nome. Não sabe vogais, o alfabeto ou os números. Achei muito estranho por se tratar de uma criança de 7 anos com histórico de frequência em sala de aula. (W) tem mania de apontar seu lápis a toda hora, e mexer no lixo A princípio não dei importância, era só um aluno procurando o apontador no lixo. Após duas semanas vendo isto, decidi parar de ver e cena e realmente olhar o que estava acontecendo naquele ritual de vasculhar o lixo atrás do apontador. (W) procurava na realidade restos dos lanches dos colegas, comia migalhas escondido. A partir daquele momento passei a deixar em meu armário um pacote de bolacha, pois as vezes a escola não fornece o lanche.  Comecei a olhar meu aluno de forma diferente. Como pode aprender se está com fome? Seus modos em sala de aula, inquietos e agitados, também me chamaram atenção. Pedi para falar com a mãe e percebi que o meio ao qual (W) pertence, também tem influência em seu comportamento, pois a mãe não tem estudo, nem padrões de higiene adequados, e nem sabe lidar com os filhos, pois entre eles há um clima de violência e também negligência. A mãe alega que (W) ter transtorno de aprendizagem e hiperatividade, mas alega, também, que (W) não faz nenhum tipo de tratamento ou frequenta alguma sala de recursos. A partir de todos os fatos observados, parei de ver meu aluno como indisciplinado e agitado e passei a olhá-lo como alguém que precisa de ajuda, de ser acolhido na escola e em sala de aula.



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