quarta-feira, 14 de março de 2018


Tendência Tradicional X Tendência Progressista.
              A  instituição escola vem se modificando, aos poucos mas de forma contínua. O aluno não é mais visto como “tabula rasa”, como descreve Jonh Locke (1632-1704) em sua tese no livro “Ensaio acerca do Entendimento Humano”, mas sim como escreve BECKER (p. 22, 2012): “Alias, o ser humano, não é tabula rasa. Antes, ao contrário, traz uma herança biológica, que é o oposto da “folha de papel em branco” da concepção empirista”.  É reconhecido como sujeito que constrói seu conhecimento através de suas ações e experiências,  aprende através de sua curiosidade e se encaixa no  modelo epistemológico Construtivista, como registra MACEDO (1993): “Ao construtivismo interessam as ações do sujeito que conhece”. 
Este fato deve-se a uma tendência totalmente progressista que caracteriza o ensino e a educação que tenha significado para os alunos e que valoriza o saber que cada um destes alunos traz consigo.  Faz parte deste processo, também o professor que dá ao seu aluno condições de aprender, mediando o conhecimento e propondo novas aprendizagens. BECKER (p.22, 2012) escreve da seguinte forma:
“ O professor tem todo um saber totalmente construído, sobretudo em uma determinada direção do saber elaborado (repertório cultural da humanidade). Esse professor, que age segundo o modelo pedagógico relacional, professa uma epistemologia também relacional. Ele concebe a criança (o adolescente, o adulto), seu aluno como posse de conhecimento de uma história de conhecimento já percorrida; por exemplo, a linguagem da língua materna ou das línguas maternas, no caso do bi ou trilinguismo. Esta aprendizagem é um fenômeno que não deve ser subestimado; ousaria dizer que a criança que fala uma língua, tem condições, respeitado o seu nível cognitivo, de aprender qualquer coisa”(BECKER, p.22, 2012)
              Lamentavelmente está tendência progressista esbarra em outra tendência enraizada no ensino brasileiro, uma tendência considerada tradicional, como mostrada no vídeo “Escolas Democráticas”, onde aulas são entediantes e sem muitos atrativos, com uma disciplina rígida, onde há reprodução automática dos saberes do professor, pois o mesmo se considera detentor de todo o conhecimento. Ao aluno cabe a função de copiar e decorar. BECKER (p.14, 2012) diz que neste modelo de educação “O professor fala, e o aluno escuta. O professor dita, e o aluno copia. O professor decide o que fazer, e em geral, decide o mesmo de sempre, e o aluno executa. O professor ensina e o aluno aprende.” FREIRE (p.57, 1970) descreve este processo como uma “concepção bancária da educação”.
  “A narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais vai se enchendo os recipientes, com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos serão. Em lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquiva-los. Na visão “bancária” da educação, o “saber”é uma doação dos que se julgam sábios aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações instrumentais de ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se encontra sempre no outro.”(FREIRE, p.57, 1970)
            Acumulados neste modelo epistemológico se agregam ainda o sucateamento da escola pública brasileira, onde o professor sem recursos faz malabarismos em sala de aula para tentar tornar sua aula interessante,  a acomodação de alguns professores, a desvalorização dos mesmos, e políticas públicas para a educação que estão distantes ou que não contemplam  todas as realidades.
            Todavia rumamos, como dito, lentamente e continuamente, para uma educação  de Interdisciplinaridade, transversalidade e métodos globalizados  que têm como enfoque o aluno como protagonista do seu saber. É necessário que nos foquemos na ideia de que:
“ (...) o verdadeiro conhecimento é aquele que é utilizável, é fruto de uma elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo interno de pensamento durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si, atribuindo-lhes um significado, organizando-as, relacionando-as com outros anteriores. Este processo é inalienável e intransferível, ninguém pode realizá-lo por outra pessoa (MORENO in BUSQUETS et al. 2000, p. 39)”.

Referências.
BECKER, Fernando – Educação e Construção do Conhecimento, 2. ed. – Porto Alegre: Penso, 20
BUSQUETS, Maria Dolors et al. Temas transversais em educação: bases para uma formação integral. Trad. Cláudia Schinlling. São Paulo: Ática, 2000.
FREIRE, Paulo – Pedagogia do Oprimido, 1970  (36.ª ed. 2003; 1.ª ed. 1970) Rio de Janeiro: Edições Paz e Terra

Um comentário:

  1. Ótimo texto, bem escrito e relacionando a teoria para dar sustentação às tuas reflexões. Parabéns! Continue escrevendo e apostando na tua autoria, desenvolvendo bem as tuas ideias ao longo dos textos.

    Att, Katielle de Oliveira.
    Tutora de Seminário Integrador- Eixo VII- Turma E

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