Tendência
Tradicional X Tendência Progressista.
A instituição escola vem se modificando, aos
poucos mas de forma contínua. O aluno não é mais visto como “tabula rasa”, como
descreve Jonh Locke (1632-1704) em sua tese no livro “Ensaio acerca do
Entendimento Humano”, mas sim como escreve BECKER (p. 22, 2012): “Alias, o ser
humano, não é tabula rasa. Antes, ao contrário, traz uma herança biológica, que
é o oposto da “folha de papel em branco” da concepção empirista”. É reconhecido como sujeito que constrói seu
conhecimento através de suas ações e experiências, aprende através de sua curiosidade e se encaixa
no modelo epistemológico Construtivista,
como registra MACEDO (1993): “Ao construtivismo interessam as ações do sujeito
que conhece”.
Este
fato deve-se a uma tendência totalmente progressista que caracteriza o ensino e
a educação que tenha significado para os alunos e que valoriza o saber que cada
um destes alunos traz consigo. Faz parte
deste processo, também o professor que dá ao seu aluno condições de aprender,
mediando o conhecimento e propondo novas aprendizagens. BECKER (p.22, 2012)
escreve da seguinte forma:
“
O professor tem todo um saber totalmente construído, sobretudo em uma
determinada direção do saber elaborado (repertório cultural da humanidade).
Esse professor, que age segundo o modelo pedagógico relacional, professa uma
epistemologia também relacional. Ele concebe a criança (o adolescente, o
adulto), seu aluno como posse de conhecimento de uma história de conhecimento
já percorrida; por exemplo, a linguagem da língua materna ou das línguas
maternas, no caso do bi ou trilinguismo. Esta aprendizagem é um fenômeno que
não deve ser subestimado; ousaria dizer que a criança que fala uma língua, tem
condições, respeitado o seu nível cognitivo, de aprender qualquer coisa”(BECKER,
p.22, 2012)
Lamentavelmente está tendência
progressista esbarra em outra tendência enraizada no ensino brasileiro, uma
tendência considerada tradicional, como mostrada no vídeo “Escolas
Democráticas”, onde aulas são entediantes e sem muitos atrativos, com uma
disciplina rígida, onde há reprodução automática dos saberes do professor, pois
o mesmo se considera detentor de todo o conhecimento. Ao aluno cabe a função de
copiar e decorar. BECKER (p.14, 2012) diz que neste modelo de educação “O
professor fala, e o aluno escuta. O professor dita, e o aluno copia. O
professor decide o que fazer, e em geral, decide o mesmo de sempre, e o aluno
executa. O professor ensina e o aluno aprende.” FREIRE (p.57, 1970) descreve
este processo como uma “concepção bancária da educação”.
“A
narração, de que o educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização
mecânica do conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em
“vasilhas”, em recipientes a serem enchidos pelo educador. Quanto mais vai se
enchendo os recipientes, com seus “depósitos”, tanto melhor educador será.
Quanto mais se deixem docilmente encher, tanto melhores educandos serão. Em
lugar de comunicar-se, o educador faz “comunicados” e depósitos que os
educandos, meras incidências, recebem pacientemente, memorizam e repetem. Eis
aí a concepção “bancária” da educação, em que a única margem de ação que se
oferece aos educandos é a de receberem os depósitos, guardá-los e arquiva-los. Na
visão “bancária” da educação, o “saber”é uma doação dos que se julgam sábios
aos que julgam nada saber. Doação que se funda numa das manifestações
instrumentais de ideologia da opressão – a absolutização da ignorância, que
constitui o que chamamos de alienação da ignorância, segundo a qual esta se
encontra sempre no outro.”(FREIRE, p.57, 1970)
Acumulados neste modelo epistemológico se agregam ainda o
sucateamento da escola pública brasileira, onde o professor sem recursos faz
malabarismos em sala de aula para tentar tornar sua aula interessante, a acomodação de alguns professores, a
desvalorização dos mesmos, e políticas públicas para a educação que estão
distantes ou que não contemplam todas as
realidades.
Todavia rumamos, como dito, lentamente e continuamente,
para uma educação de
Interdisciplinaridade, transversalidade e métodos globalizados que têm como enfoque o aluno como protagonista
do seu saber. É necessário que nos foquemos na ideia de que:
“
(...) o verdadeiro conhecimento é aquele que é utilizável, é fruto de uma
elaboração (construção) pessoal, resultado de um processo interno de pensamento
durante o qual o sujeito coordena diferentes noções entre si, atribuindo-lhes
um significado, organizando-as, relacionando-as com outros anteriores. Este
processo é inalienável e intransferível, ninguém pode realizá-lo por outra
pessoa (MORENO in BUSQUETS et al. 2000, p. 39)”.
Referências.
BECKER, Fernando –
Educação e Construção do Conhecimento, 2. ed. – Porto Alegre: Penso, 20
BUSQUETS, Maria Dolors
et al. Temas transversais em educação: bases para uma formação integral. Trad.
Cláudia Schinlling. São Paulo: Ática, 2000.
FREIRE, Paulo – Pedagogia do Oprimido, 1970 (36.ª ed. 2003; 1.ª ed. 1970) Rio de
Janeiro: Edições Paz e Terra
Ótimo texto, bem escrito e relacionando a teoria para dar sustentação às tuas reflexões. Parabéns! Continue escrevendo e apostando na tua autoria, desenvolvendo bem as tuas ideias ao longo dos textos.
ResponderExcluirAtt, Katielle de Oliveira.
Tutora de Seminário Integrador- Eixo VII- Turma E